Especial Grandes Inventores: Karl Benz

O automobilismo como conhecemos hoje é resultado de inúmeras mentes brilhantes que contribuíram com seu progresso ao longo do tempo. Além disso, essa área foi responsável por transformar a cultura e mercado mundiais, desde o American Way of Life às gigantes petrolíferas. Assim, é inevitável falar sobre ele sem citar Karl Benz, cujo sobrenome é eternizado pela empresa que o leva.

Figura 1: Karl Benz

Karl Benz
Fonte: Wikipedia

Karl Friedrich Michael Vaillant nasceu em Mühlburg, Alemanha, no dia 25 de novembro de 1844. Filho do operador de locomotiva Johann Georg Benz, do qual herdou o sobrenome Benz apenas aos 2 anos, depois da morte do pai. Mesmo próximo à pobreza, a mãe de Karl garantiu que ele tivesse uma boa educação. Assim, como prodígio, o garoto começou a estudar o desenvolvimento de chaves e fechaduras, mas logo seguiu o caminho do pai. Aos 15 anos ingressou na Universidade de Karlsruhe, graduando-se em engenharia mecânica aos 19.

OS PRIMEIROS PASSOS

Durante sete anos, o engenheiro recém formado buscou treinamento em diversas empresas, sempre atuando na sua área de formação. Dentre elas, já fora de Karlsruhe, ele trabalhou como projetista em uma fábrica de balanças em Mannheim. Em seguida, na cidade de Pforzheim, atuou em uma construtora de pontes. Por último, em Viena, Karl lidou com ferro para construção civil, mas assim como nos empregos anteriores, o alemão não conseguiu se encaixar muito bem.

De volta a Mannheim, em 1871 Benz montou uma sociedade com August Ritter e criaram uma empresa que seria oficina mecânica e local de fundição de ferro. Infelizmente, o novo sócio não se mostrou confiável, e o primeiro ano da empresa foi um completo desastre. Apesar de todos os problemas, Bertha Ringer, noiva de Karl, comprou a parte de August na empresa com seu dote. A partir daí, o casal conseguiu liderar no desenvolvimento de novos motores com a fábrica que compraram após o casamento em 1872.

Com esse cenário, o engenheiro alemão pôde se dedicar à criação de novas patentes, buscando adquirir mais lucro com os novos produtos. Assim, se dedicou ao desenvolvimento de um motor dois tempos à gasolina que fosse  confiável. Tendo chegado ao seu objetivo, o novo motor foi patenteado em 1880, sendo seguido por diversas outras invenções. Dentre elas, temos o sistema de controle de velocidade (acelerador), ignição por faíscas à bateria, vela de ignição, carburador, embreagem, o sistema de câmbio e o radiador à água. 

Novamente problemas voltam a surgir, dessa vez por causa dos bancos. Devido o alto custo da empresa, o casal foi forçado a lançá-la no mercado como sociedade anônima para conseguir maior ajuda financeira. Assim, eles formaram uma associação com o fotógrafo Emil Bühler e seu irmão, restando a Karl Benz apenas cinco porcento da empresa e um cargo de diretor. Além disso, as ideias dele foram totalmente desconsideradas no desenvolvimento de produtos no futuro. Portanto, se sentindo decepcionado, o engenheiro deixou a empresa em 1883.

BENZ & CIE. E O PRIMEIRO AUTOMÓVEL

Sempre apaixonado em sua área de atuação, Karl Benz começou a trabalhar em uma oficina de bicicletas. Logo fez uma parceria com os donos Max Rose e Friedrich Wilhelm Eßlinger, e fundaram a Benz & Companie Rheinische Gasmotoren-Fabrik, uma compainha que produzia máquinas industriais. A empresa logo cresceu e começou a produzir motores a gás.

Com o sucesso da companhia, Benz pôde se dedicar ao desenvolvimento de um sonho antigo: uma carruagem que não precisasse de cavalos. Assim, seu interesse por bicicletas serviu de inspiração para que ele criasse o primeiro modelo de automóvel. A nova invenção mostrou toda a genialidade do engenheiro: um motor quatro tempos de 1600 cilindradas e cilindro único impulsionava o eixo traseiro por duas correntes de transmissão. Além disso, havia um moderno sistema elétrico de ignição, resfriamento evaporativo e uma única roda dianteira. O modelo foi batizado de Benz Patent Motorwagen pelo próprio inventor.

Figura 2: Réplica do Benz Patent Motorwagen

Figura 3: Motor do primeiro automóvel do mundo

A direção do automóvel ainda era muito primitiva, levando inclusive a colidir contra uma parede durante uma demostração. Além disso, algumas modificações técnicas foram necessárias ao longo do tempo, chegando ao terceiro modelo em 1888. A partir daí, Karl apresentou a nova invenção na Paris Expo e começou a comercializá-la. Até 1893, 25 unidades do Motorwagen foram montadas em parceria com Emile Roger. Ele possuía uma linha de produção em Paris e já tinha permissão para produzir motores para Benz.  

RUMO AO SUCESSO

A primeira viagem de longa distância com o novo veículo foi de extrema importância para o aperfeiçoamento do modelo. Bertha Benz e seus dois filhos, supostamente escondida do marido, viajou 104 km de Mannheim a Pforzheim para visitar a mãe. No caminho, viu a dificuldade do Motorwagen em subir ladeiras sozinho e freiar, entre outros pequenos problemas mecânicos. Assim, uma terceira marcha foi adicionada e Bertha surgiu com mais uma invenção: as pastilhas de freio.

A partir daí, a Benz & Cie. passou por um processo de expansão. Tendo em vista que o mercado de motores de combustão interna teve aumento significativo na demanda, Karl Benz aumentou a fábrica de Mannheim e adquiriu mais uma em Waldhofstrasse. De 1889 a 1899, a empresa passou de 50 para 430 funcinários. Assim, ao final do século XIX, a companhia era a maior no ramo automobilístico, com 572 unidades produzidas apenas em 1899.

A primeira corrida de automóveis – Paris to Rouen de 1894 – também teve participação do engenheiro alemão. O Benz Velo representou a marca, chegando em décimo quarto lugar sob a direção de Émile Roger. Neste dia, o modelo correu 126 km em 10 horas e 1 minuto com velocidade média de 12,7 km/h. A essa altura, os automóveis já permeavam a sociedade como uma das invenções mais importantes de todos os tempos.

Figura 4: Benz Velo sendo apresentado em Londres (1898)

Karl Benz continuava a contribuir com sua genialidade e, em 1895, inventou os primeiros caminhão e ônibus  (Benz Omnibus) movidos por motores a combustão interna da história. No ano seguinte, o engenheiro patenteou o motor boxer, que trazia um novo conceito para a mecânica: pistões opostos, dispostos horizontalmente sendo capazes de balancearem os movimentos e reduzirem as vibrações. Dessa forma, o modelo foi largamente utilizado até os dias de hoje, aparecendo em modelos da Porsche, Subaru e motores de alta performance para carros de corrida.

Figura 5: Primeira logo utilizada nos produtos da Benz & Cie.

Em 1899, a companhia finalmente entrou na bolsa de valores com a chegada de Friedrich von Fischer e Julius Ganß no conselho administrativo. O segundo trabalhava na área que hoje é conhecida como marketing. Ambos os diretores trouxeram a ideia de que um veículo mais barato deveria ser desenvolvido para a produção em massa. Assim, em surgiu o veículo de 2 passageiros Benz Viktoria, com um motor de 3 cavalos e velocidade máxima de 18 km/h. O modelo foi um sucesso, e naquele mesmo ano vendeu 85 unidades. 

Junto com o século XX veio a concorrência, representada pela Daimler Motoren Gesellschaft (DMG) do engenheiro alemão Gottlieb Daimler que vinha desafiando a liderança da Benz & Cie. Devido a disputa, em 1903 Karl surgiu com o Parsifil, que atingiu 60 km/h. Entretanto, os diretores da companhia contrataram engenheiros franceses, inspirados no trabalho da DMG, sem consultar o alemão. Assim, ele preferiu deixar a gestão do desing para evitar discussões, mas permaneceu como diretor do conselho administrativo.

Figura 6: Karl e Bertha Benz em um Benz Viktoria (1894).

O SURGIMENTO DA BENZ SÖHNE

Ainda em 1903, os filhos Eugene e Richard deixaram a empresa do pai, mas Richard voltou no ano seguinte para trabalhar no desing de veículos. Três anos depois, Eugene montou uma empresa com seu pai também no ramo de manufatura de automóveis: a Benz Söhne. Assim, produziram automóveis de qualidade (famosos em Londres como táxis) e motores movidos a gás, que logo foi substituído pelo petróleo devido a demanda. Em 1912, Karl deixou a empresa inteira para os dois filhos.

Figura 7: Benz Söhne logo.

A MERCEDES BENZ

Nos anos 1920, devido a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha passava por uma intensa crise financeira. Recessão e inflação assolavam o mercado, levando a Benz & Cie. a ter uma forte queda nas vendas e aumento nos custos. Por isso, em 1924 Benz se uniu à concorrente DMG em um acordo que duraria até o ano 2000. Nele estava previsto a padronização de desing, compras, vendas e marketing, apesar de as marcas continuarem independendes. Assim, em 1926 as empresas se fundiram formando Daimler-Benz, que batizou todos os automóveis como Mercedes Benz. O nome Mercedes foi uma homenagem ao modelo mais importante da história da DMG.

Benz trabalhou o resto da vida como membro do conselho administrativo da nova companhia. Em 1926 foi desenvolvida uma nova logo, que permanece até os dias atuais. Ela consiste numa estrela de três pontas que representa o principal lema de Daimler: “motores para terra, ar e água”. No ano seguinte, as vendas triplicaram e o Mercedes-Benz SSK foi lançado.

Karl Benz morreu em 4 de abril de 1929 com 84 anos devido uma inflamação nos brônquios. Ele estava em casa, na cidade de Ladenburg, onde Bertha morou até sua morte em 1944. O legado do engenheiro permanecerá eternamente, pois as inovações trazidas por ele mudaram a forma que a humanidade encara o mundo. Muito mais que um grande inventor, Karl Benz é fonte de inspiração para quem busca desenvolver novas tecnologias nos dias de hoje.

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