O termo Lean Manufacturing, traduzido para o português como Manufatura Enxuta, pode ser definido com uma filosofia de gestão que busca otimizar e aperfeiçoar o sistema de produção. Suas ferramentas atuam diretamente no combate ao desperdício e priorizam a qualidade do produto final.
O Lean Manufacturing não é um método novo, porém, atualmente sua aplicação está ganhando força em diversas empresas no mundo. Com a atual realidade em que vivemos, onde o comércio é totalmente globalizado e extremamente competitivo, a busca por métodos que aumentam a produtividade e reduzem os desperdícios tornaram-se essenciais para qualquer empresa que almejam crescimento e lucratividade.
Mas como surgiu o Lean Manufacturing? Como funciona?
- Origem e Motivação
Figura 1 – Eiji Toyoda, engenheiro e um dos criadores do Toyotismo
A Manufatura Enxuta tem uma ligação direta com o Toyotismo e com as necessidades da época em que o Sistema Toyota de Produção nasceu. Este modelo de produção foi desenvolvido no Japão, pós-Segunda Guerra Mundial, nas fábricas da empresa automotiva Toyota.
Com o país destruído, um mercado pequeno e uma enorme dificuldade para importar matéria-prima, a necessidade por aumentar a produtividade e reduzir ao máximo os desperdícios foi o estopim para os engenheiros Taiichi Ohno (1912-1990), Shingeo Shingo (1909-1990) e Eiji Toyoda (1913-2013) pensarem em mudanças na produção.
As principais mudanças e inovações do Toyotismo foram impulsionadas na estratégia dos engenheiros em contornar todos os problemas que o país estava vivendo. Logo, para reduzir os gastos com estoques, tanto de matéria-prima quanto de mercadorias, e consequentemente reduzir os desperdícios, surgiu o ‘Just in Time’(JIT). O JIT pode ser dito como o principal pilar do Toyotismo, sendo uma produção por demanda onde nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da hora certa.
- Os Princípios do Lean Manufacturing
Com características fundamentais no Toyotismo, o Lean Manufacturing surge com cinco princípios bem definidos e adaptados com a atual realidade do mercado globalizado do século XXI.
Figura 2 – Os princípios da Manufatura Enxuta
– Valor
É essencial identificar o valor do produto final para analisar os desperdícios em quaisquer que sejam as atividades do processo cujo produto passa. Esta análise é feita classificando as atividades em 3 grupos:
- As que agregam valor ao produto, ou seja, o cliente está disposto a pagar um valor superior pelo produto ou serviço.
- As que não agregam valor, porém, são necessárias. Atividades que não estão diretamente ligadas aos produtos, mas inerentes ao processo.
- As que não agregam valor e não são necessárias.
Vale ressaltar, que as atividades citadas devem ser focadas no cliente, e no valor final do produto.
– Fluxo de Valor
O fluxo de valor é o conjunto de atividades realizadas pela empresa do momento do pedido à mão do cliente. Busca sempre a melhor sequência de produção para assim auxiliar a visualização das etapas e propiciar a análise de possíveis desperdícios.
– Fluxo Contínuo
O fluxo contínuo segue uma linha contínua de produção sem interrupções e com a finalidade de reduzir o tempo entre as atividades. Dessa forma, é possível otimizar o ritmo da demanda e reduzir os custos e os esforços desnecessários.
– Produção Puxada
Uma produção que visa a diminuição dos estoques tem como o start da produção, o pedido do cliente. Desta forma, cada processo produtivo “puxa” as peças fabricadas no processo anterior, eliminando assim, a programação das etapas do processo produtivo.
– Perfeição
Tudo o que foi discutido acima tem que ser feito com o objetivo de obter um produto de alta qualidade e com um custo competitivo.
- Os 8 tipos de desperdício segundo Lean Manufacturing
Figura 3 – Os oito desperdícios
Após todo o levantamento de informações que rodeiam a Manufatura Enxuta, podemos entender essa filosofia como uma busca por reduzir todo e qualquer que seja a forma de desperdício, sendo ela na estocagem de matéria-prima ou na forma de produção.
Como já foi discutido, existem processos que não agregam valor ao produto final, mas são inerentes à sua fabricação. Logo, o objetivo é tentar enxugar tudo o que for possível de tais processos para assim minimizar o impacto final. Os desperdícios são divididos nas seguintes oito grandes categorias:
– 1°) Transporte
O transporte, na abordagem do Lean, engloba o movimento de ferramentas, estoque, equipamentos e produtos além do necessário. É uma forma de desperdício relacionado ao planejamento e estruturação da empresa. As perdas relacionadas à estas movimentações, não agregam valor ao produto e trazem gastos de tempo e energia elétrica e humana.
– 2°) Estoque
Desde as ideias iniciais da Manufatura Enxuta, o estoque sempre buscou-se a redução do estoque. O Lean considera o estoque um local para esconder ineficiências do processo. Isto é, recursos parados que podem ser tanto matéria-prima quanto produtos finalizados. Isso pode causar um aumento de problemas relacionados ao espaço útil da fábrica e também propiciar desorganização generalizada.
– 3°) Movimentação
A movimentação se diferencia do transporte pois se refere às pessoas. Pode ser entendido como movimentação em excesso, como por exemplo, uma determinada pessoa transitar entre setores para procurar ferramentas específicas. Este tipo de desperdício está ligado à desorganização e desordem nas atividades e pode trazer prejuízos físicos aos envolvidos.
– 4°) Espera
A espera é um tipo de desperdício causado pela interrupção do Fluxo Contínuo. Pode ser motivado pela ineficiência de equipamentos, má comunicação ou até mesmo por processos burocráticos.
– 5°) Superprodução
Forma de desperdício gerada a partir da produção desnecessária, sejam mercadorias acima da demanda ou informações sem utilidade. A superprodução contraria um dos princípios da Manufatura Enxuta, que explicita a busca por qualidade e não quantidade.
– 6°) Processamento Excessivo
Refere-se a qualquer operação ou processo além do que foi pré-estabelecido. Deve-se evitar modificações e aperfeiçoamentos que contrariam a sequência lógica do funcionamento do processo. A padronização pode ser uma ferramenta indispensável no gerenciamento e controle para se obter um processo eficaz.
– 7°) Retrabalho
Desperdício causado pela falha de alguma etapa de produção. A quantidade de tempo e dinheiro investidos em um produto deve ter um bom retorno. Logo a inspeção das etapas tem que ser rígida para garantir uma alta qualidade dos produtos. O investimento em máquinas automáticas e a manutenção das mesmas pode reduzir os problemas relacionados ao retrabalho.
– 8°) Intelectual
Pode ser entendido como a falta de aproveitamento do conhecimento de seus colaboradores. Enquanto o desperdício de um equipamento ou defeito de um lote pode ser facilmente verificado, a falta de capital intelectual nem sempre é percebida pelas empresas.
- Porque implementar o Método do Lean Manufacturing?
A filosofia da Manufatura Enxuta é uma mudança que deve ser feita na empresa toda, em todos os ramos e em todas as pessoas envolvidas. Os passos citados e a metodologia do Lean, se seguidos, podem trazer grandes melhorias para a empresa ou negócio, pois abrangem todo o processo de produção. A relação com o cliente, o tratamento com os funcionários e todos os pontos que o método ataca, podem impulsionar uma empresa que busca rapidez, qualidade e competitividade.
Afinal, como Edwards Deming disse: “Não é necessário mudar. A sobrevivência não é obrigatória!”.