Os Primórdios da Engenharia

Muito se ouve falar, na era contemporânea, sobre engenharia e suas mais variadas ramificações. O que poucos sabem é como, de fato, ocorreu o surgimento desse termo, bem como toda a história por trás dessa área de estudo.

            O termo “engenharia”, como é utilizado corriqueiramente, e o conceito propriamente dito têm uma grande diferença no período de seus respectivos surgimentos.  O primeiro é derivado da palavra “engenheiro” e surgiu no início do século XVI. Basicamente, era utilizado para caracterizar alguém que comandava um engenho. Naquele contexto, a palavra “engenho” é diretamente relacionada ao conceito de máquina de guerra, como eram as catapultas e balistas, por exemplo. Ainda é possível analisar que o termo “engenho”, de origem latina, proveniente da palavra “ingenium”, que em tradução livre quer dizer “gênio”. Dessa forma, “engenheiro” era utilizado para caracterizar indivíduos astutos e habilidosos, que eram capazes de elaborar invenções geniais.

Figura 1: Exemplos de Máquinas de Guerra

Fonte: Fromoldbooks.org

            Por outro lado, o conceito de engenharia é datado de uma época muito anterior. Alguns historiadores acreditam que seu surgimento acompanha a origem da civilização, visto que muitos acreditam que a engenharia é a aplicação de métodos e conceitos para criação e transformação das matérias-primas, no intuito de mudar sua finalidade. Para outros, o conceito provém da Idade Antiga (4000 a.C até 476 d.C), época na qual foram desenvolvidas algumas das primeiras invenções conhecidas e até hoje utilizadas, como a roda e a polia. O conceito de engenharia é aplicado à essas invenções, se considerarmos que foram utilizados conhecimentos básicos mecânicos para o desenvolvimento de utensílios que ajudam no cotidiano.

Engenharia na Idade Antiga

         Um dos primeiros exemplos de engenharia no âmbito civil é datado do século XXVII a.C., e é atribuído ao arquiteto real do Faraó Djoser, Imhotep. Ele foi responsável pelo projeto e pela supervisão da construção da Pirâmide de Djoser, uma estrutura monumental de aproximadamente 62m de altura construída para o sepultamento do Faraó. É cercada de diversos elementos adornais e é, por muitos arqueólogos, considerada a primeira pirâmide a ser construída no Egito.

            Outras edificações grandiosas que são consideradas exemplos da engenhosidade dos antigos arquitetos é a Acrópole de Atenas, que abriga diversas estruturas monumentais magníficas como o Propileu e o Partenon. A maior parte dessas estruturas foi erguida a mando de Péricles, um dos maiores líderes e influenciadores atenienses, e datam do período de 460 – 430 a.C. Estas acrópoles tinham uma função de proteção, visto que ficavam no ponto mais alto das cidades. Como eram formadas por estruturas extremamente resistentes e duradouras, ainda hoje é possível encontrar diversas ruínas da Acrópole, assim como outros edifícios que continuam de pé, como o Partenon.

Figura 2: Ruínas do Parthenon

Fonte: Unsplash

            Além de invenções no âmbito das edificações, diversas máquinas também foram inventadas e creditadas aos gregos da antiguidade. A Máquina de Anticítera, considerada como o primeiro computador analógico construído, é datada do período de 87 a.C. e era responsável por prever posições astrológicas. Por outro lado, as invenções de Arquimedes são exemplos que utilizavam diversos conceitos sobre engrenagens e que, posteriormente, foram muito aproveitados.

            Também foram desenvolvidas inúmeras máquinas de guerra, como a balista, a catapulta e o trabuco. Todas essas invenções são influenciadas por tecnologia militar desenvolvida durante às guerras, porém isso não significa que seus usos eram restritos a isso. Por serem necessários grandes conhecimentos físicos e mecânicos para a elaboração desses mecanismos, o avanço tecnológico iniciado por eles foi largamente reproduzido em outras áreas cotidianas e constituem a base para a engenharia atual.

Engenharia no Renascimento

         O renascimento foi marcado por uma ideologia progressista, e marcava a transição do período feudal para o capitalismo, sendo este um período de ascensão de diversos pintores, escultores e inventores.

            Uma das principais invenções deste período, e que foi de extrema relevância para o sucesso do movimento renascentista, foi a invenção da Imprensa de Gutenberg. Criada nos meados de 1450, era baseada nas prensas de vinhos e tinha um mecanismo móvel que permitiu um incremento na velocidade das impressões quando comparada às técnicas chinesas de impressão existentes anteriormente.

            Considerado um dos maiores artistas renascentistas, Leonardo Da Vinci também foi um exímio inventor. Desde as famosas máquinas voadores e máquinas de guerra até pontos e instrumentos musicais, Da Vinci foi responsável por desenvolver inúmeros mecanismos, e seus escritos e anotações serviram de base para muitos elementos presentes na engenharia moderna. Entre os exemplos mais famosos encontram-se: a ponte autossustentável, que tinha uma estrutura muito simples e ingênua, mas que era muito simples de ser transportada e adquiria uma alta estabilidade quando montada; a serra hidráulica, que, basicamente, era uma serra movida por um fluxo de água; o “helicóptero” de Da Vinci, que, apesar de primitivo, apresentava diversos conceitos utilizados atualmente pela engenharia aeronáutica;

            Além de Da Vinci, outro engenheiro mecânico de bastante importância no período foi Thomas Savery. Considerado por muitos o primeiro engenheiro mecânico moderno, Savery foi responsável pela criação da primeira máquina a vapor, que posteriormente foi um ponto chave para a Revolução Industrial, visto que permitiu o inicio das grandes produções em massa.

Figura 3: Máquina a Vapor de Savery

Fonte: Institute of Human Thermodynamics and IoHT Publishing Ltd.

            A engenharia renascentista também teve um papel de extrema importância no descobrimento do mundo, visto que foi entre os séculos XV e XVI que surgiu a engenharia naval em Portugal. Com uma abordagem mais técnica e com maior conhecimento teórico, foi possível desenvolver navios maiores e mais resistentes, como a caravela e o galeão, elementos chave no tema das grandes navegações.

Engenharia na Modernidade

         A estrutura principal da engenharia moderna é fundamentada nas aplicações generalizadas de conhecimentos científicos para a solução dos mais variados tipos de problemas. Devido a todo o conhecimento adquirido e transmitido ao longo dos anos, os avanços modernos conseguem ser mais específicos em determinadas áreas, alcançando inovações grandiosas e que contribuem muito para a evolução científica.

            Com os diversos estudos realizados por Michael Faraday e Georg Ohm, a engenharia elétrica teve seu surgimento em meados do século XIX. Com o aumento da globalização, e consequentemente do aumento do uso e distribuição de energia elétrica, o surgimento de inventos na área e, também, do conceito de engenheiro elétrico acabou sendo inevitável. Posteriormente, no final do século XIX, com o estudo de ondas de rádio e também de componentes eletrônicos, surgiu o conceito de eletrônica.

            Apesar de sempre estar presente durante a evolução humana, foi durante o século XVIII que a engenharia mecânica passou a ser estudada como um campo específico do conhecimento e, somente no século seguinte, passou a ser entendida como uma ciência. A partir da Revolução Industrial, o conhecimento a respeito de automação e máquinas mais autônomas tornou-se muito mais intenso e desejado. Se analisarmos estudos mais recentes, é fácil perceber que o foco de estudo da engenharia mecânica tem passado para temas mais atuais, como mecatrônica, nanotecnologia e até estudos de projetos biomecânicos.

            Outro exemplo presente no contexto das engenharias que surgiram na era moderna: a engenharia química, que, assim como a mecânica, teve um crescimento exponencial durante a Revolução Industrial. Por se tratar de um período de intensa industrialização e aumento da globalização, fez-se necessário o surgimento de uma área de estudo que seria responsável por distribuir produtos químicos em grande escala; a engenharia aeronáutica, que teve muito insumo teórico advindo de inventores antigos, como Da Vinci por exemplo, e que teve um desenvolvimento intenso durante a Primeira Guerra Mundial; por fim, pode se citar a engenharia da computação, que teve seu surgimento após a Segunda Guerra Mundial, que deu início a expansão da informática.

            É possível notar que, apesar de parecerem muito diferentes umas das outras, todas as engenharias têm uma base muito próxima quando pensamos em todo o desenvolvimento da humanidade. Ainda que os inventos vêm se tornando cada vez mais avançados, todos eles são resultado do aperfeiçoamento de tecnologias antepassadas. Dessa forma, a engenharia é algo presente em todas as atividades cotidianas, seja em elementos simples como calculadoras, até invenções extremamente tecnológicas, como satélites e espaçonaves. Por fim, pode-se ter a certeza de que o tema engenharia nunca perde seu valor, se renovando a cada minuto.

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